sexta-feira, 11 de setembro de 2015


Nova espécie do gênero humano é descoberta na África do Sul

Pesquisadores encontraram ossos de pelo menos 15 hominídeos.
Ela foi batizada de 'Homo naledi' e classificada dentro do gênero Homo.

 
            Grupo de pesquisadores apresentou nesta quinta-feira (10) na África do SuL os remanescentes fósseis de um primata que podem ser de uma espécie do gênero humano desconhecida até agora.
            A criatura foi encontrada na caverna conhecida como Rising Star (estrela ascendente), 50 km a nordeste de Johanesburgo, onde foram exumados os ossos de 15 hominídeos. O primata foi batizado de Homo naledi. Em língua sotho, "naledi" significa estrela, e Homo é o mesmo gênero ao qual pertencem os humanos modernos.
            Os fósseis foram encontrados em uma área profunda e de difícil acesso da caverna, na área arqueológica conhecida como "Berço da Humanidade", considerada patrimônio mundial pela Unesco. Por se situar num depósito sedimentar onde as camadas geológicas se misturam de maneira complexa, os cientistas ainda não conseguiram datar o primata descoberto, que poderia ter qualquer coisa entre 100 mil e 4 milhões de anos.
"Estou feliz de apresentar uma nova espécie do ancestral humano", declarou Lee Berger, pesquisador da Universidade Witwatersrand de Johannesburgo, numa entrevista coletiva em Moropeng, onde fica o "Berço da Humanidade".
Título: O professor Lee Berger segura a réplica de um crânio do ‘Homo naledi’, nova espécie de hominídeo descoberta na África do Sul  (Foto: Siphiwe Sibeko/Reuters)
            Em 2013 e 2014, os cientistas encontraram mais de 1.550 ossos que pertenceram a, pelo menos, 15 indivíduos, incluindo bebês, adultos jovens e pessoas mais velhas. Todos apresentavam uma morfologia homogênea e pertenciam a uma "nova espécie do gênero humano que era desconhecida até então".
            O Museu de História Natural de Londres classificou a descoberta como extraordinária. "Alguns aspectos do Homo naledi, como suas mãos, seus punhos e seus pés, estão muito próximos aos do homem moderno. Ao mesmo tempo, seu pequeno cérebro e a forma da parte superior de seu corpo são mais próximos aos de um grupo pré-humano chamado australopithecus", disse Chris Stringer, pesquisador do Museu de História Natural de Londres, autor de um artigo sobre o tema que acompanhou o estudo de Berger, publicado no periódico científico eLife.


 


            A descoberta pode permitir uma compreensão melhor sobre a transição, há milhões de anos, entre o australopiteco primitivo e o primata do gênero homo, nosso ancestral direto.

            Se for muito antiga, com mais de 3 milhões de anos, a espécie teria convivido com os australopitecos, anteriores ao gênero homo. Se for mais recente, com menos de 1 milhão de anos, é possível que tenha coexistido com os neandertais -- primos mais próximos do Homo sapiens -- ou até mesmo com humanos modernos.

            Os trabalhos que levaram à descoberta foram patrocinados pela National Geographic Society, dos EUA, e pela Fundação Nacional de Pesquisa da África do Sul.


 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Pode haver vida nas luas de Júpiter e Saturno

Pode haver vida nas luas de Júpiter e Saturno

por Lusa, publicado por Ana Meireles15 setembro 2013

Montagem de Júpiter e os seus satélites
Montagem de Júpiter e os seus satélites Fotografia © Nasa
 
A astrobióloga portuguesa Zita Martins, do Imperial College of London, co-autora de um artigo científico publicado hoje, acredita que há condições para existir vida nas luas de Júpiter e Saturno, pela importância do gelo na criação de aminoácidos.
"Toda a gente fala de Marte, mas eu acho muito mais interessantes as luas de Júpiter e Saturno, porque têm as condições ideais para a existência de vida", afirmou à agência Lusa a investigadora do Imperial College of London, que tem o artigo publicado hoje, na revista Nature Geoscience.
A convicção foi reforçada pelos resultados de uma experiência realizada em parceria com a Universidade de Kent, na qual foi disparado, a alta velocidade, um projétil de aço contra misturas de gelo, análogas às encontradas nos cometas.
O objetivo era reproduzir o impacto de um cometa com uma superfície rochosa, e o resultado foi a descoberta de vários tipos de aminoácidos, nomeadamente glicina e alanina D e L.
Estes compostos orgânicos são definidos pela cientista portuguesa como "os blocos constituintes da vida", pois estão na origem de proteínas que, por sua vez, são essenciais à existência de matéria viva.
Zita Martins conta que já se sabia que os cometas, astros que na sua composição têm gelo, podem conter aminoácidos, como foi recentemente confirmado pela descoberta de glicina no cometa Wild 2, através de amostras recolhidas pela NASA, a agência espacial norte-americana.

sábado, 25 de julho de 2015

Junção de micróbios teria dado início à vida complexa na Terra


Junção de micróbios teria dado início à vida complexa na Terra, diz autor



The New York TimesTim Requarth

25/07/201506h00

 
            O escritor Nick Lane autor de "The Vital Question: Energy, Evolution, and the Origins of Complex Life" (A questão vital: energia, evolução e as origens da vida complexa)

            Como foi que as pedras, o ar e a água se uniram para formar as primeiras criaturas vivas na Terra primitiva? Por que a vida complexa como a dos animais e das plantas surgiu de um só ancestral somente uma vez na História de nosso planeta?

            Por que dois sexos e não três, quatro ou 12? Por que envelhecemos e morremos?

            No livro "The Vital Question: Energy, Evolution, and the Origins of Complex Life" (A questão vital: energia, evolução e as origens da vida complexa), Nick Lane pretende responder a essas perguntas e muitas mais com um novo conjunto de ideias sobre o surgimento e a evolução da vida. Bioquímico da University College London, Lane sustenta que com alguns princípios da física, podemos presumir por que a vida é assim – na Terra e no resto do cosmos.

            O livro anterior de Lane, "Life Ascending: The Ten Great Inventions of Evolution" (Vida ascendente: as dez grandes invenções da evolução), ganhou o Prêmio da Real Sociedade para livros científicos, e novamente ele se mostra um guia capaz em meio a terreno científico traiçoeiro. O autor escreve com prosa lúcida, acessível e, embora a ciência possa se tornar densa, o leitor será recompensado com uma visão impressionantemente anticonvencional da biologia.

            A ideia mais surpreendente de Lane tem a ver com como a vida complexa surgiu. Durante a maior parte da História terrestre, a vida era microbiana: nada de árvores, cogumelos nem mamíferos. Embora os micróbios exibam diversidade bioquímica espantosa, vivendo em qualquer coisa, de concreto a ácido de bateria, eles nunca evoluíram para se tornar algo mais complicado do que uma única célula.

            Então, o que tornou possível o grande florescer da biodiversidade? Partindo de ideias desenvolvidas com o biólogo da evolução William Martin, Lance localiza as origens da vida em um acaso bizarro há bilhões anos, quando um micróbio passou a viver dentro de outro. Segundo ele, esse evento não foi uma divisão da árvore evolucionária, mas uma fusão com consequências profundas.

            O novo inquilino forneceu energia para o hospedeiro, pagando aluguel químico em troca de habitação segura. Com a renda extra, a célula hospedeira pôde se dar ao luxo de fazer investimentos em comodidades biológicas mais complexas. A união prosperou, replicou e evoluiu.

            Hoje, chamamos esses micróbios internos de mitocôndria; quase toda célula em nosso organismo tem milhares dessas fábricas energéticas. Lane e Martin argumentam que em função da mitocôndria, células complexas têm quase 200 mil vezes mais energia por gene, abrindo espaço para genomas maiores e evolução irrestrita.

            Dentro da célula, a mitocôndria guarda seus próprios anéis minúsculos de DNA, postos genéticos avançados distintos do centro de comando genético no núcleo da célula.

            Embora a relação agora seja de simbiose, no começo o DNA mitocondrial vivia sendo bombardeado pelo genoma nuclear, provocando mutações frequentes. Sob essas condições, assegura Lane, somente a evolução do sexo permitiria à seleção natural manter a função de genes individuais em grandes genomas que sofrem ataques.

Mas por que dois sexos? O índice de mutação no DNA mitocondrial é elevado, o que pode abalar fatalmente a função celular.            O desafio para qualquer organismo é manter baixo esse índice e, com dois sexos, argumenta Lane, nos quais somente um deles passa as mitocôndrias à descendência, o problema é atenuado.

            Nós vemos isso em quase todos os organismos complexos. Por exemplo, os humanos recebem a mitocôndria exclusivamente das mães.

            Com a idade, as mutações mitocondriais se acumulam. Em outro lugar, Lane destacou pesquisa mostrando que variantes em um único gene mitocondrial reduziram pela metade a perspectiva de ser internado por doenças causadas pela idade em pacientes que as tem, e duplicaram a perspectiva de viver até os cem anos. Lane acredita que esse achado poderia levar a progressos médicos se nós compreendêssemos como proteger o DNA mitocondrial.

"Como podemos esperar compreender a doença se não temos ideia do motivo de as células funcionarem assim?", ele questiona.

            Mas e as origens da vida, antes de existirem células? Lane também tem algo a dizer a esse respeito. Livros didáticos contam que a origem da vida tem raízes na especulação de Darwin de que em algum "laguinho quente" a matéria inanimada, talvez energizada por um raio de sorte, formou moléculas complexas que terminaram se replicando sozinhas.

            Isso faz Lane pensar para trás. Segundo ele, a matéria inanimada nunca poderia se agrupar em moléculas maiores com apenas um raio, da mesma forma que uma pilha de tijolos não poderia se montar como uma casa durante a tempestade. O surgimento da vida deve ter sido impulsionado por uma fonte de energia confiável e contínua.

            A visão alternativa de Lane se origina com o geólogo Mike Russell, que décadas atrás propôs que a vida surgiu em formações rochosas elevadas no leito oceânico, onde a agua aquecida e carregada de minerais era cuspida do centro da Terra por meio de uma rede oca de compartimentos do tamanho de células. Essas rochas continham os ingredientes necessários para a vida começar e, o mais importante, sua temperatura natural e gradientes de energia favoreciam a formação de moléculas maiores. Ao tirar proveito da energia de uma Terra inquieta, no entender de Lane, uma pilha de tijolos só pode ser tornar uma casa.

            Esse cenário gera uma previsão inesperada sobre como os organismos geram energia. Nas células de quase toda criatura, incluindo os humanos, os prótons estão presos em um dos lados de uma membrana. A única saída é com a ajuda de proteína notável, com formato de turbina, a ATP sintase. Os prótons caem pela proteína rotatória, convertendo aquela energia em um formato útil para a célula, análoga a uma roda d'água.

            Esse mecanismo bizarro, tão universal quanto o DNA, é totalmente inesperado na ciência. Porém, é baseado nas rochas porosas de Russell, que separam a água pobre em próton de seu interior do oceano rico em prótons. A vida tirou proveito dessa dinâmica natural do próton, Lane afirma: os gradientes do próton devem ser uma "propriedade universal da vida no cosmos".

            A ampla perspectiva de Lane, que tenta abordar as origens da vida, sexo e morte, é sedutora e muitas vezes convincente, embora a especulação muitas vezes supere os fatos em muitas das passagens do livro. Todavia, talvez para uma teoria biológica de tudo, isso é esperado, até mesmo bem-vindo.

            Ainda não se sabe se a pesquisa irá confirmar Lane, mas suas muitas previsões, por mais incríveis que pareçam, podem ser testadas e poderiam manter os cientistas ocupados durante anos. Como Sherlock Holmes dizia, "quando se eliminou o impossível, então o que restar, por mais improvável que seja, deve ser a verdade".